RESUMO DO LIVRO: O Pentateuco e os “pentateucos” na Bíblia: uma abordagem canônica
A- DADOS GERAIS SOBRE O AUTOR E A OBRA
Título da obra: O Pentateuco e os “pentateucos” na Bíblia: uma abordagem canônica
Nome do autor: Waldecir Gonzaga e Doaldo Ferreira Belém
Data da 1ª edição: 2022
Língua original: Português
Tradutor(es): N/A
Data da edição lida: 2022
Data do resumo: Maio de 2025
Total de páginas lidas: 31
B – SOBRE O AUTOR DO RESUMO:
Autor(a): Paulo Sergio Orti
Paulo Sergio Orti
Psicólogo, Professor universitário com Mestrado em Engenharia de Produção, com ênfase em Gestão do Conhecimento. Graduação em Tecnologia de Gestão. Especialista em Administração de recursos Humanos. MBA-FGV em Gestão de Serviços. Diretor na TOTEM Talentos, consultor de Planejamento, Gestão e Carreira. Experiência em gestão pública e privada, grandes, médias e pequenas empresas.
C- RESUMO
Sobre os autores:
Waldecir Gonzaga. Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália). Diretor do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica Rio de Janeiro. Rio de Janeiro/RJ – Brasil. E-mail: waldecir@puc-rio.br
Doaldo Ferreira Belém. Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro/RJ, Brasil. E-mail: doaldofb@uol.com.br
1. O QUE É O PENTATEUCO?
“O Pentateuco ou Torá (instrução = indicação e noção do conteúdo), é o conjunto de livros do Antigo Testamento mais comum a todas as tradições judaico-cristãs, seja em número seja na ordem em que os livros são dispostos nas Bíblias hoje. Os cinco livros são muito reverenciados dentro do Antigo Testamento e do Novo Testamento, tanto a partir de citações explícitas, como de alusões ou ecos de temas próprios do corpus, o primeiro nas Bíblias, em todas as tradições.”
2. FORMAÇÃO DAS TRADIÇÕES
A tradição judaico-cristã reconhece Moisés como o autor do Pentateuco. No entanto, Schmidt (1994) afirma que o próprio Antigo Testamento atribui a Moisés apenas algumas partes, como determinadas leis que constam no êxodo (Ex 24.4; 34. 27s.) e no Deuteronômio (Dt 31.9,22ss), mas não todo o texto do Pentateuco.
Sicre (1994) relata que é difícil imaginar Moisés em volta de papiros e tintas, em pleno deserto para deixar registrado seus relatos. Já na idade média alguns judeus questionavam como Moisés poderia contar sua própria morte (Dt 34.5–12).
No período pós-exílio da história de Israel, parece importante escrever sobre as histórias das tradições orais, algo que no deserto não era necessário. Argumentos contra a teoria tradicional passam por vários critérios tais como cortes, tropeços na narração, tradições duplicadas ou triplicadas, tradições diversas ou até opostas, anacronismos, diferenças de vocabulário e diferenças de estilo. Pury (1996) no entanto, afirma que para os rabinos, Moisés não só autor da “Torá Escrita”, mas também da “Torá Oral”.
O Antigo Testamento só atribuiu a Moisés o “código da aliança’ (Ex 24,4), o “decálogo cultual” (Ex 34,27), o grande discurso histórico e legislativo do Deuteronômio (cf. Dt 1,1.5; 4,45;31.9–24; etc.), assim como algumas perícopes menores (cf. Ex 17,14; Nm 33,2; Dt 31,30; etc.).
Antes de tudo a Lei estava associada à Moisés (cf. também Ml 3,22; Esd 3,2; 7,6; 2Cr 25,4; 35, 12; etc.) e só a partir do período pós-bíblico é que o Pentateuco como um todo lhe foi atribuído, uma concepção que predominou até o século XVIII (Pury, 1996, p.18).
Apoiado em considerações estilísticas, o teólogo protestante A. B. Karlsdt (1486–1541) afirmou que não fora Moisés o autor do Pentateuco, mas considera Esdras (outro profeta) como autor. Mesma conclusão teve Richard Simon (1638–1712), porém, anos mais tarde foi questionada por Jean Le Clerc por meio do melhoramento do método crítico e essa hipótese de Esdras como autor foi abandonada.
Surgindo a hipótese documental desenvolvida por Julius Wellhausen (1883), também conhecida como Teoria das Fontes, é a teoria segundo a qual os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (chamados de Pentateuco), são resultado de uma composição a partir de quatro fontes principais: javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal. Designadas pelas siglas:
J = Javista ca. De 950 a.C. — época de Salomão, antes da chamada divisão do reino, 926 a.C.).
E = Eloísta ca. De 800 a.C. — antes do chamado profetismo escrito, especialmente Oséias.
D = (Proto) Deuteronômio aproximadamente século VII a.C. — antes da reforma de Josias, aproximadamente em 622 a.C.. Mais tarde a reforma teve ampliação extensa.
P = Escrito Sacerdotal ca. De 550 a.C. — exílio; complementações na época pós-exílica.
Wellhausen (1883) definiu o número e a sequência das diversas fontes escritas, as siglas atualmente em uso com as datas geralmente aceitas, como segue:

Schmidt, 1994, p.53
3. FONTES LITERÁRIAS
Segundo Gottwald (1988), a principal fonte de informação da história primitiva de Israel é a própria Bíblia Hebraica, mesmo afirmando que os livros foram completados apenas após o exílio. São uma reconstrução da tradição oral, compilando as unidades mais tradicionais da história de Israel. Para compreender essa reconstrução histórica, é importante compreender o molde característicos da literatura de cada período da história de Israel.
3.1 O Javista (J)
O estilo de literatura Javista, foi composta por volta de 960–930 a.C. durante o reinado de Salomão, com textos escritos na cidade de Judá e destacou o papel central dessa tribo. Não se sabe ao certo os nomes dos escritores, mas essa fonte do estilo pode ser identificada nos Livros de Gênesis, Êxodo e Número, além de Josué e Juízes.
Gottwald (1988) e Pury (1996), afirmam que o que caracteriza essa fonte são os relatos grandiosos dos reinados de Davi e Salomão, evidenciando a história de passagem do trono da casa de Saul para Davi e a sucessão do trono de Davi, mostrando que Javé dá o poder a quem bem lhe parece.
Outra característica é a preferência por chamar o Deus de Israel pelo nome próprio de Iahweh, na grafia alemã Jahweh. O texto Javista não tem intenção teológica, mas demonstra que utiliza muito da teologia da graça divina para explicar a escolha do filho mais novo em relação ao mais velho, da pessoa mais frágil em detrimento da mais forte.
No segundo livro da bíblia, o livro do Êxodo, Moisés questiona Deus sobre qual seria o seu verdadeiro nome: “Mas se os israelitas me perguntarem qual é teu nome, que lhes vou responder?” E Deus disse a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE SOU”. Assim dirás aos israelitas: “EU SOU me manda a vocês”. Isto lhe dirás: “EU SOU o Deus de Isaac e o Deus de Jacó me manda a vocês. Este é meu nome para sempre” (Êxodo 3,13-15).
3.2 O Eloísta (E)
Datada de 900–850 a.C., após a fragmentação da monarquia unida, considera a mesma proposta literal dos Javistas, começando pelos patriarcas até a conquista da terra de Canaã. Gottwald (1988) afirma que os autores Eloistas escolheram propositalmente o nome de Eloim para o Deus de Israel, no período antes de Moisés, pois o nome Iahweh teria sido dado primeiramente a Moisés. Os autores teriam vivido no Norte de Israel, reino independente que mantinha o nome de Israel após a separação de Judá, nos territórios de Manassés e Efraim, denominado muitas vezes só de Efraim. Portanto, sem muita ênfase nas autoridades governamentais, deixa claro que Israel transcendia os dois reinos e apresenta críticas aos reinos tanto de Judá como de Israel. O eloísta evidencia o Israel primitivo como uma comunidade religiosa, que possuía aliança com Iahweh como ética em sua tradição, levando o leitor a uma lição moral, indo ao encontro de uma teologia retributiva, onde a obediência à vontade divina é recompensada e a desgraça é a punição merecida na falta dela.
Onde aparece o nome Elohim na Bíblia? Gênesis 1:1 é o primeiro versículo do primeiro capítulo do Livro de Gênesis na Bíblia. O versículo diz: “No princípio criou Deus (Elohim) os céus e a terra”.
O nome Elohim é usado em algumas situações na Bíblia que nos revelam bastante sobre o caráter de Deus: a soberania de Deus (Deuteronômio 10.17; Jeremias 32.27); o poder criador de Deus (Isaías 45.18; Jonas 1.9); a ação de Deus como juiz (Salmo 50.6; 58.11).
3.3 A História Deuteronomística (D ou HD)
Gottwald (1988) narra que o estilo de instrução dessa fonte, imprimia no povo o significado da obediência à aliança com Iahweh, expressando nas leis antigas o respeito à justiça social e à fidelidade religiosa. Altamente didático e exortativo, parece ter sido cultivado nas assembleias públicas periódicas para celebrar a renovação da aliança entre Iahweh e Israel. Aparentemente, existe uma espécie de “escola” deuteronomista de escribas que teria desenvolvido o documento em diversas fases da história de Israel, do início até o exílio. É uma obra exposta com clareza no Livro de Deuteronômio, por isso tais tradicionalistas (escribas) são denominados como “D”.
A tradição deuteronômica ressurgiu como a força conceitual e documentária impulsora na reforma do reino de Judá, iniciada pelo rei Josias. Composta por volta do século VII a.C., antes da reforma de Josias (622 a.C.), ou seja, após o reino do Norte ter caído em 722 a.C. e é fruto das tradições deuteronômicas que foram conservadas pelos simpatizantes no sul.
A palavra “Deuteronômio” deriva do título grego na Septuaginta, significa literalmente “segunda lei” ou “repetição da lei”, conforme Dt. 17:18, mish•néh hat•toh•ráh, corretamente traduzida por “cópia da lei”. Contém os discursos de Moisés ao seu povo no deserto, durante o êxodo do Egito à Terra Prometida por Deus. Possui 34 capítulos e os discursos, em geral, reforçam a ideia de que servir a Deus não é apenas seguir sua lei. Moisés enfatiza a obediência em consequência do amor: “Amarás a Javé teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e com todo o teu entendimento”.
No Novo Testamento cristão, Jesus é a principal autoridade que atesta a autenticidade de Deuteronômio, citando-o três vezes ao repelir as tentações de Satanás, o diabo. (Mateus 4:1-11; Deuteronômio 6:13-16, Deuteronômio 8:3). Também, Jesus respondeu à pergunta sobre qual é o maior e o primeiro mandamento citando Deuteronômio 6:5 em Marcos 12:30. Paulo cita Deuteronômio 30:12-14; Deuteronômio 32:35-36 em Romanos 10:6-8 e Hebreus 10:30.
3.4 O escritor sacerdotal (P)
Considerada umas das fontes mais tardias dos escritos da fonte sacerdotal, data de 550–450 a.C. A letra “P” tem origem na primeira letra do termo “Código Sacerdotal” que na lingua alemã é escrito: Priesterkodex. Conforme Gottwald (1988), a fonte P relata de forma muito organizada a criação, os rituais religiosos, com ênfase a observância do dia de sábado; na circuncisão; as cláusulas dietéticas; o tratamento das enfermidades e as instruções sobre o sacerdócio e os sacrifícios, muito presente em Êxodo e praticamente em todo Levítico, fortalecendo a tradição sacerdotal em toda história de Israel.
Seguem algumas expressões típicas e citações desse estilo literário:
El Shaddai (O todo-poderoso – Escala Sacerdotal) é um nome de Deus que aparece na Bíblia em Gênesis 17:1, Gênesis 28:3 e Gênesis 35:11.
Algumas citações bíblicas que mencionam El Shaddai são:
“Eu sou El Shaddai; anda diante de mim e sê perfeito” (Gênesis 17:1)
“Eu Sou El-Shaddai, o Deus Todo-Poderoso” (Gênesis 35:11)
“Aquele que habita no abrigo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará” (Salmo 91:1).
O estilo aparece muito em Levítico e Números, mas nos outros livros também.
4. A FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
Schmidt (1994) simplifica a formação do Pentateuco, pois para ele, J seria a fonte primeira, depois o acréscimo da fonte E, formando JE em 722 a.C. e posteriormente o acréscimo de P, em 550 a.C., formando JEP. Porém, Wellhausen (1883) defende a existência, extensão, época e local do surgimento das fontes divergentes, tornando os resultados de pesquisa crítico-literária passivos de revisão.
A separação das fontes no Pentateuco continua com duplicações e alternâncias sobre nomes de Deus ou designações de Deus como Javé, Elohim. Segundo Schmidt (1994), na literatura nos deparamos eventualmente com expressões idiomáticas e sem explicação objetiva, além de outras características como contradições, vocabulário, estilos e teologia que comprovam a existência de várias fontes dentro de um mesmo texto.
A presença de três fontes escritas como J, E e P na primeira metade do Gênesis, pode ser vista no gráfico de Schmidt abaixo, onde nos blocos de texto com as linhas pontilhadas se encontram com outras fontes escritas:

Schmidt, 1994, p.56
Referências básicas:
BÍBLIA TEB. Introdução aos livros deuterocanônicos. In.: BÍBLIA TEB. São Paulo: Loyola, 2020. p. 1425-1437.
GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica São Paulo: Paulinas, 1988.
PURY, Albert de. O pentateuco em questão. Petrópolis: Vozes, 1996.
SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento São Leopoldo, RS: Sinodal, 1994.
SICRE, José Luiz. Introdução ao Antigo Testamento Petrópolis: Vozes, 1994.
WELLHAUSEN, Julius. Prolegomena zur Geschichte Israels (Prolegômenos à História de Israel). Vol. 1 (2ª ed.). Berlim: Druck und Verlag von Georg Reimer. Edição do Projeto Gutenberg, 1883.
PALAVRAS-CHAVE
Pentateuco, Estilo literário bíblico, Bíblia, Torá, Antigo e Novo Testamento