RESUMO DO LIVRO: A Estranha Ordem das Coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura

A- DADOS GERAIS SOBRE O AUTOR E A OBRA

Título da obraA Estranha Ordem das Coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura

Nome do autorAntónio Damásio

Data da 1ª edição: 2018

Língua original: Inglês

Tradutor(es): Laura Teixeira Motta

Data da edição lida: 2018

Data do resumoMaio de 2025

Total de páginas lidas: 333

B – SOBRE O AUTOR DO RESUMO:

Autora: Vanderléia Schmitz

Engenheira Sanitarista e Ambiental, mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina, com ênfase em Hidrologia e Hidráulica aplicada. Especialista em Licenciamento Ambiental. Atuação profissional como engenheira, consultora e pesquisadora na área ambiental. Integrante do Grupo Morada das Tradições.

C- RESUMO

António Rosa Damásio, nascido em Lisboa em 1944, é médico neurologista, licenciado e doutor pela Universidade de Lisboa. É professor de neurociência na Faculdade Dana e David Dornsife e psicologia, filosofia e neurologia, da Universidade do Sul da Califórnia. É uma das grandes referências na área da pesquisa da Neurociência da Mente e do Comportamento Humano. Autor das obras: E o cérebro criou o homem, O erro de Descartes, O mistério da consciência, O Sentimento de Si e Em busca de Espinosa.

O livro “A Estranha Ordem das Coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura” está organizado em Princípio, Parte I, Parte II, Parte III, Agradecimentos, Notas e Índice remissivo. A parte I – Sobre a Vida e sua Regulação (Homeostase), apresenta quatro subcapítulos: 1. Sobre a condição humana; 2. Em uma região de dessemelhança; 3. Variedades de homeostase e 4. De células únicas a sistemas nervosos e mentes. A parte II – A Montagem da Mente Cultural, apresenta cinco subcapítulos: 5. A origem das mentes; 6. Mentes em expansão; 7. Afeto; 8. A construção de sentimentos e 9. Consciência. A parte III – A Mente Cultural em Ação, apresenta quatro subcapítulos: 10. Culturas; 11. Medicina, imortalidade e algoritmos; 12. Sobre a condição humana hoje e 13. A estranha ordem das coisas.

No prefácio do livro o autor relata que estuda o afeto humano, o mundo das emoções e sentimentos há muito tempo. Ele destaca que os sentimentos não têm recebido o reconhecimento que merecem, como motivos e monitores das proezas culturais da humanidade. Entende cultura como sendo “as artes, a investigação filosófica, sistemas morais e crenças religiosas, justiça, governança, instituições econômicas e tecnologia e ciência” (DAMÁSIO, 2018, p. 11). E que o ponto de partida na trajetória das culturas humanas está nos sentimentos — da dor e do sofrimento ao bem-estar e ao prazer — e não apenas no intelecto, na sociabilidade ou na linguagem. Os sentimentos e as mentes culturais criativas são resultados de um longo processo, em que a seleção genética, orientada pela homeostase, teve um papel fundamental. Segundo o autor o livro “destina-se a apresentar alguns fatos por trás da formação de mentes que pensam, criam narrativas e significado, recordam o passado e imaginam o futuro” e que o mecanismo do sentimento e consciência são os responsáveis pelas conexões recíprocas entre mentes, o mundo exterior e sua respectiva vida (DAMÁSIO, 2018, p. 16).

A seguir, apresenta-se a estrutura dos subcapítulos que compõem a Parte I do livro. O subcapítulo Sobre a Condição Humana (parte I) está estruturado com os seguintes temas: uma ideia simples; sentimento versus intelecto; em que medida a mente cultural humana foi original; começo humilde; da vida dos insetos sociais; homeostase; prenunciar mentes e sentimentos não é o mesmo que gerar mentes e sentimentos e os primeiros organismos e as culturas humanas. O subcapítulo em uma região de dessemelhança (parte I) está descrito com os temas vida e a vida em movimento. O subcapítulo Variedades de homeostase (parte I) contém os tópicos: as variedades de homeostase; homeostase agora e as raízes de uma ideia. O subcapítulo de células únicas a sistemas nervosos e mentes (parte I) explica os temas: desde a vida bacteriana; sistema nervoso e o corpo vivo e a mente. A parte I – Sobre a Vida e sua Regulação apresenta como principal conceito o termo Homeostase. Segundo o autor “A essência da homeostase é a formidável tarefa de administrar a energia — obtê-la e alocá-la para funções cruciais como reparação, defesa, crescimento e participação na geração e manutenção de descendentes” (DAMÁSIO, 2018, p. 60). E que a homeostase é “um estado no qual as operações da vida davam a sensação de que eram reguladas positivamente em direção ao bem-estar. A vigorosa projeção no futuro era indicada pelo sentimento básico de bem-estar” (DAMÁSIO, 2018, p. 63).

A parte II do livro está organizada em subcapítulos, conforme detalhado a seguir. O subcapítulo A origem das mentes (parte II) está composto com os seguintes temas: a transição determinante; a vida como mente; a conquista; imagens requerem sistema nervoso; imagens do mundo fora do nosso organismo e imagens do mundo interno do nosso organismo. O subcapítulo Mentes em expansão (parte II) explica os temas: a orquestra oculta; produção de imagens; significados; traduções verbais e a produção de memórias; enriquecimento das mentes e uma observação sobre a memória. O subcapítulo Afeto (parte II) engloba os temas: sobre o que são sentimentos; valência; tipos de sentimento; o processo da resposta emotiva; de onde vêm as respostas emotivas; estereótipos emocionais; a sociabilidade inerente dos impulsos, motivações e emoções propriamente ditas e sentimentos em camadas. O subcapítulo A construção de sentimentos (parte II) está desenvolvido com os seguintes temas: de onde vêm os sentimentos; a montagem dos sentimentos; a continuidade de corpos e sistemas nervosos; o papel do sistema nervoso periférico; outras peculiaridades da relação corpo-cérebro; o subestimado papel do intestino; onde se localizam as experiências de sentimento; sentimentos explicados e um aparte sobre a recordação de sentimentos passados. O subcapítulo Consciência (parte II) explica os temas: sobre a consciência, observando a consciência, subjetividade: o primeiro e indispensável componente da consciência; o segundo componente da consciência: a integração de experiências; da percepção sensitiva à consciência e um aparte sobre o problema difícil da consciência.

A parte II – A Montagem da Mente Cultural apresenta conceitos sobre mente, afeto, sentimentos e consciência. Segundo o autor “A unidade básica para as mentes é a imagem, que pode ser de uma coisa, do que uma coisa faz, do que a coisa faz você sentir, do que você pensa sobre a coisa, ou das palavras que traduzem qualquer um desses itens ou todos eles” (DAMÁSIO, 2018, p. 109). O autor afirma que o afeto “é uma tenda bem ampla sob a qual deposito não só todos os sentimentos possíveis, mas também as situações e mecanismos responsáveis por produzi-los, ou seja, por produzir as ações cujas experiências tornam-se sentimentos” (DAMÁSIO, 2018, p. 119). Na visão do autor os sentimentos “acompanham a trajetória da vida em nosso organismo, tudo o que percebemos, aprendemos, lembramos, imaginamos, raciocinamos, julgamos, decidimos, planejamos ou criamos mentalmente” (DAMÁSIO, 2018, p. 119). Conforme aponta o autor consciência “aplica-se ao tipo de estado mental”, que “permite ao seu possuidor ser o experimentador privado do mundo ao seu redor, e, igualmente importante, experimentar aspectos de seu próprio ser” (DAMÁSIO, 2018, p. 167). E que “a subjetividade e a experiência integrada são os componentes cruciais da consciência” (DAMÁSIO, 2018, p. 168).

Na sequência a estrutura dos subcapítulos que compõem a Parte III do livro. O subcapítulo Culturas (parte III) contém os temas: a mente cultura em ação; a homeostase e as raízes biológicas das culturas; culturas humanas características; sentimentos como árbitros e negociadores; avaliação dos méritos de uma ideia; das crenças religiosas e moralidade à governança política; artes, investigação filosófica e ciências; contradizendo uma ideia; avaliação e ao pé da fogueira. O subcapítulo Medicina, imortalidade e algoritmos (parte III) explica os seguintes temas: medicina moderna; imortalidade; a concepção algorítmica da humanidade; robôs a serviço dos humanos e de volta a mortalidade. O subcapítulo sobre a condição humana hoje (parte III) aborda os seguintes temas: um estado de coisas ambíguo; há uma biologia por trás do atual de coisas na cultura e um embate não resolvido. E o subcapítulo A estranha ordem das coisas encerra o capítulo da parte III.

A parte III – A Mente Cultural em Ação apresenta a ideia sobre o significado de cultura. A palavra cultura foi aplicada ao universo das ideias pelo orador e pensador romano Cícero: “cultivo da alma – “cultura animi”, provavelmente numa associação com o preparo da terra e seu resultado, o aperfeiçoamento e a melhoria do crescimento das plantas”. Ou seja, “o que se aplicava à terra podia muito bem se aplicar à mente” (DAMÁSIO, 2018, p. 22). Para o autor “As artes, a investigação filosófica, as crenças religiosas, as faculdades morais, a justiça, a governança política e as instituições econômicas – mercados, bancos -, a tecnologia e a ciência são as principais categorias de empenho e realização denotadas pela palavra “cultura” ” (DAMÁSIO, 2018, p. 22). Acrescenta que “Ideias, atitudes, costumes, prática e instituições que distinguem um grupo social de outro pertencem ao escopo geral da cultura” e que “a noção de que as culturas são transmitidas entre as pessoas e as gerações pela linguagem e pelos próprios objetos e rituais que as culturas criaram” (DAMÁSIO, 2018, p. 22/23).

No subcapítulo, sobre a condição humana hoje, o autor destaca que essa deveria ser a melhor época para estar vivo, mas a humanidade atual está sendo relapsa, com uma espiritualidade falida e sociedades ingovernáveis, vivendo um estado de coisas ambíguas. Entende que “Graças ao confronto com a dor e ao reconhecimento do desejo, os sentimentos, bons e maus, deram foco ao intelecto, conferiram-lhe propósito e ajudaram a criar novos modos de regular a vida” (DAMÁSIO, 2018, p. 266). Ou seja, com os sentimentos e intelecto ampliados foi gerada uma poderosa alquimia, libertando “os humanos para tentar a homeostase por meios culturais, em vez de permanecerem cativos de seus mecanismos biológicos” (DAMÁSIO, 2018, p. 266).

No subcapítulo, A estranha ordem das coisas, o autor esclarece que há “100 milhões de anos atrás, algumas espécies de insetos já haviam adquirido uma coleção de comportamentos, práticas e instrumentos sociais que podem, apropriadamente, intitular-se culturais quando comparados a seus análogos sociais humanos”. E que “há vários milhões de anos, organismos unicelulares também apresentavam comportamentos sociais cujas linhas gerais condizem com aspectos de comportamentos socioculturais humanos” (DAMÁSIO, 2018, p. 267). O autor conclui que “sentimento e subjetividade são faculdades antigas e não dependeram do complexo córtex cerebral dos vertebrados superiores, quanto mais dos humanos, para fazer sua estreia” (DAMÁSIO, 2018, p. 272). Segundo o autor “Isso já pode ser chamado de “estranho”, porém, mas uma vez, as coisas ficam ainda mais estranhas” (DAMÁSIO, 2018, p. 272). “Muito antes do período Cambriano, organismos unicelulares podiam responder a danos à sua integridade com reações químicas e físicas defensivas e estabilizadoras, estas últimas um tanto semelhantes aos atos de encolher-se e estremecer” (DAMÁSIO, 2018, p. 272). Conforme o autor “essas reações são repostas emotivas, o tipo de programas de ação quem mais adiante, na evolução, seria representado na mente como um sentimento” (DAMÁSIO, 2018, p. 272). E ressalta que “O fato de podemos encontrar tanta coisa em comum nos comportamentos sociais e afetivos de organismos unicelulares, esponjas e hidras, cefalópodes e mamíferos sugere uma raiz comum para os problemas da regulação da vida em diferentes seres” e que obedecer ao imperativo homeostático é uma solução comum a todos (DAMÁSIO, 2018, p. 273).

O autor argumenta que “O tipo de homeostase automática que encontramos em bactérias, animais simples e plantas precede o desenvolvimento de mentes que, mais tarde, seriam dotadas de sentimentos e consciência” (DAMÁSIO, 2018, p. 62). E que “A homeostase automática, começando pelas bactérias, incluiu e, na verdade, requereu as capacidades de sentir e responder, as humildes precursoras das mentes e da consciência” (DAMÁSIO, 2018, p. 62). Os sentimentos (dolorosos e prazerosos) foram os catalisadores dos processos de questionar, entender e solucionar problemas, o que diferencia mais profundamente a mente humana da mente de qualquer espécie. Com este questionamento os humanos têm sido capazes de criar soluções para as dificuldades e de construir meios para promover a prosperidade. Indiferente da causa (externa ou interna) da dor e do sofrimento os humanos usaram seus recursos individuais e coletivos para inventar uma variedade de respostas (cultura) (DAMÁSIO, 2018, p. 21). A “estranha ordem das coisas” refere-se à ideia de que a base da cultura tem origem na biologia, principalmente nos sentimentos. Ou seja, essa ordem parece estranha, mas segundo o autor a criação da civilização a partir de elementos biológicos resultaram em culturas mais elaboradas como, a investigação filosófica, ciência e tecnologia.

PALAVRAS-CHAVE

Ordem, Biologia, Sentimentos, Cultura, Homeostase, Mente, Consciência, Humanidade