Juarez – Olá amigos. O assunto de hoje é sobre Constelação Familiar, qual a importância de sabermos sobre esse assunto, qual a importância das nossas famílias nas nossas vidas. Vamos conversar com a especialista na área Lucilene Wolff. Lucilene é psicóloga, especialista em psicologia transpessoal, atua na formação de profissionais que trabalham com a Constelação Familiar e, consequentemente, atende no consultório, é professora, trabalha com grupos, não é Lucilene, um trabalho familiar. Lucilene, o que nós podemos conceituar ou entender como Constelação Familiar?
Lucilene – Juarez, desde o princípio da psicologia, nós temos esse olhar sobre a interação do ser humano, a formação da sua identidade dentro do contexto familiar. É a primeira relação que ele vai ter. Primeiramente só com a sua mãe, até o nascimento, depois com os cuidadores, pois existem casos em que não é possível o bebê ficar só com a mãe, então ele fica com os cuidadores e isso é definitivo na sua formação na sua construção de identidade. Então, desde o início da psicologia se estuda essas influências, o que podemos trazer da nossa família para o nosso desenvolvimento. É um estudo muito longo e hoje temos várias denominações, várias teorias, e tem todo o trabalho de Bert Hellinger, que é a Constelação Familiar Sistêmica, um trabalho específico desde a década de 70. Mas, muito antes de Hellinger, existia esse estudo sobre a importância de se olhar para isso. O que trazemos da nossa família.
Juarez – De certa forma isso já nasce com a psicologia porque as raízes psíquicas do ser humano, as primeiras relações que se constituem são na família. Mas, importante lembrarmos que família não se refere somente ao ambiente biológico propriamente dito, pois muitas vezes a criança nasce em um local e é criado em outro. Esses eventos, como a humanidade conhece, são naturais, então não necessariamente o indivíduo que não tenha o contato direto com a sua família biológica não vai ter uma família de certa forma. Então, é tanto raiz biológica quanto psíquica e nós estamos, na verdade, falando da mesma coisa.
Lucilene – Eu gosto de usar o termo cuidador para quem fez a maternagem, quem fez a paternagem dessa criança. O que se descobre é que a influência de zero a sete vai permanecer durante toda a vida do indivíduo e o mais interessante ainda é que, nas pesquisas, foi descoberto a importância dessa herança que a gente chama de herança psicogenética. Não herdamos só os traços genéticos visto pela biologia. Temos uma herança psíquica. A criança já nasce do ideário dos pais. A mãe está grávida, já se pensa no nome, já se pensa em como seria essa criança, menina ou menino, e tudo isso influencia na construção psíquica.
Juarez – E há situações de gravidez em que as mães não esperam pela gravidez naquele momento de vida. Às vezes, num primeiro momento, é um momento de estranhamento para aquela mãe, para aquela família, para aqueles pais. Há situações também em que, inesperadamente, a mãe engravida. Então, todas essas possibilidade humanas de geração, de gestação de um bebê, estão contribuindo na formação desse mesmo ser humano. Agora, um ponto interessante, Lucilene, você como especialista deve perceber isso na prática do seu trabalho diário, é que, independentemente da idade, mesmo com 30, 40, 50 anos, nós ainda temos elementos que nos constituíram e que fazem parte da nossa raiz familiar e a ciência comprova isso há muito tempo. Como é que isso acontece na tua prática clínica, de ver que algumas situações de vida da pessoa estão acontecendo por questões que tem raiz na sua própria família?
Lucilene – Nós estamos em transformação constante, a nossa subjetividade muda, nós vamos tendo experiências e com isso nós vamos nos transformando e isso é a beleza de ser humano, essa possibilidade de autoconhecimento e de se transformar. O que se observa é que o que a gente trabalha mostra que você parte de um contexto familiar e essa família tem tradições e aquilo que é da família, que faz parte da tradição, do contexto familiar, vai influenciar naquilo que os teóricos chamam de pertencimento. Então, se pertence a um núcleo familiar e esse núcleo tem uma história e aquilo que o constituiu faz parte disso e quando eu digo familiar não é só a família de origem mas tudo aquilo que faz parte da história do indivíduo, o seu trabalho, a relação de escola. Interessante que se observa que essas familiaridades também se repetem em qualquer ambiente que o indivíduo permaneça, porque é um sistema. A família é um sistema aberto que se influencia pelo que vem de fora e com essa influência se transforma, se modifica. Temos, então, várias possibilidades de se trabalhar com esse indivíduo que pertenceu a um sistema familiar, que pertence a um sistema empresarial, tendo o seu contexto de trabalho. É olhando para os vários sistemas que a pessoa participa e como é esse seu ser no mundo, dentro desses sistemas, e os estudos das constelações nos auxiliam, como recurso, para olhar para esse ser pertencendo na complexidade dessas relações.