Juarez – Continuando nosso assunto sobre Constelação Familiar com a especialista Lucilene Wolff, uma amiga de grandes jornadas, de muito tempo, e que trabalha há muitos anos na formação de pessoas, tanto atendimento clínico, na formação de profissionais para o trabalho na Constelação Familiar. Lucilene, nós temos algumas áreas que são mais específicas, porque na verdade nenhuma área deixa de lado a tradição familiar de uma pessoa. Mas há, provavelmente, duas, ou mais, grandes linhas que se dedicaram a estudar especificamente essa cultura familiar, essa tradição familiar, como impacto na construção do ser humano. Não é isso?
Lucilene – Exato Juarez. Nós podemos destacar a psicologia que tem uma abordagem, chamada a Teoria Sistêmica, que se ocupa desse olhar específico para família, temos o mercado e tem também a Constelação Familiar Sistêmica, segundo Bert Hellinger, que na década de 70, desenvolveu uma técnica própria, um protocolo específico. Temos também a psicogenealogia, que agora está sendo mais divulgada, que trabalha com genossociograma, onde se faz o mapeamento da história familiar. Podemos destacar também a mediação familiar, que se utiliza nos contextos judiciários, que também é uma forma de olhar para família. Então, são essas formações mais formais que a gente tem no mercado.
Juarez – Lucilene, nenhuma ciência, como eu disse anteriormente, desconsidera que o ser humano é, antes de tudo familiar, como espécie biologicamente, sociologicamente e culturalmente. Esse ser humano, ele é resultado, ele influencia no resultado da própria sociedade. Nós temos, naturalmente, uma constelação e que depois se expande para todas as áreas da vida da pessoa: no trabalho, na escola, em todos os segmentos sociais que o ser humanos vivencia. Mas, em se tratando de comportamento humano, nós temos as ciências da psicologia se especializando cada vez mais nesse segmento, até para contribuir com o Direito, com a Medicina e com outras áreas, e você é uma especialista nessa área do comportamento humano. O que você sugere para as pessoas que queiram trabalhar nessa abordagem Sistêmica Familiar, que queiram, de alguma maneira, buscar mais informações sobre o seu trabalho profissional nessa área como pessoa que trabalha com a Constelação Familiar ou com a Teoria Sistêmica?
Lucilene – Isso é muito estudo Juarez, porque as relações são muito complexas. Nós temos, na Psicologia, como eu falei no início, esse cuidado mas nas outras áreas, nas outras ciências como a sociologia, a antropologia, também se estuda esse comportamento. A psicologia tem o olhar para o indivíduo, como é o indivíduo neste contexto, mas tudo agrega para o trabalho de como entender a minha relação com o outro. O trabalho de Bert é muito profundo, é uma abordagem bem consistente, onde coloca as três leis do amor, que ele chama leis do amor: a lei do pertencimento, a lei do vínculo e do equilíbrio de troca. Todos são estudos em que você aprofunda o teu conhecimento sobre o olhar da família e a importância desse olhar para o indivíduo. Veja bem, o bebezinho está lá, vamos imaginar algo aqui: vamos supor que tem um bebê lá no berço e ele escuta alguém falar algo dentro da família, um segredo familiar, por exemplo ‘o meu tio usurpou a herança de alguém’. Esse bebê escutou, essa história circula no meio familiar, e são essas histórias, muitas vezes o não dito, é que vão interferir no psiquismo. Porque existe uma tradição, existe um saber, que não foi colocado, um suposto saber e, essas técnicas, elas te auxiliam a decifrar aquilo que não está consciente, que não está aparente, melhor dizendo, para o indivíduo. Então, às vezes, existe um sintoma, que não se descobre a causa, e estudando a história familiar, a história dos antepassados, pode-se chegar a isso. Importante ressaltar aqui que a origem é muito importante. Se eu venho de um outro continente, se os meus familiares vieram de outro país, aqui no Brasil nós temos muitos imigrantes, tudo isso faz parte da história do indivíduo e dentro esse trabalho essa história aparece e ao aparecer essa história você tem como olhar para sintomas o que não é possível com outras técnicas. Importante frisar que é uma técnica não uma teoria. É uma técnica que se aplica para que você possa auxiliar o indivíduo no seu autoconhecimento.
Juarez – E esse autoconhecimento diz respeito às suas tradições. Dentro da psicologia nós temos, também, uma área que estuda a constituição familiar e as várias implicações que esse contexto gera na vida de cada um e, às vezes, gera problemas entre as pessoas da família e, em outras vezes, soluções, como da própria vida de Sigmund Freud. Há uma história muito linda da vida dele, da infância dele, que contribuiu, de alguma forma, positivamente para a construção, inclusive, da teoria. Dentro dessas abordagens é possível fazer esse tipo de análise do campo familiar para que essa análise seja, então, devolvida terapeuticamente, no ambiente clínico, para que essas pessoas compreendam melhor como se dão as relações entre si, que às vezes são favoráveis e que às vezes estão com alguns enfrentamentos que atrapalham a vida de todos.